23 de junho de 2013

Pronunciamento de Dilma é vazio e oportunista.‏




Dilma , mostrou que ainda não entendeu o clamor do povo e a motivação que está levando as pessoas para as ruas. Irrita nos manifestantes quando mostra se preocupar mais com “a minoria violenta e autoritária” do que com a maioria pacífica que aprendeu a gritar o que quer. Chegar a dizer que “não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil”. Vergonha? O povo se envergonha muito mais da corrupção do que com casos isolados de violência nas manifestações e quando as manifestações acabarem a corrupção ainda continuará e muito grande. Dilma não discutiu o motivo da violência nem o papel negativo da polícia nos casos de conflito. Perdeu uma bela oportunidade de entrar nesta discussão propondo aquilo que até a ONU já pediu ao Brasil, o fim da Polícia Militar. Deveria aproveitar a baixa popularidade da PEC 37 e fazer uma nova proposta redefinido também nossas polícias, rediscutindo de forma mais aprofundada quem teria o poder de investigação e acabando de vez com esta estrutura arcaica e ineficiente de duas polícias. Não percebeu que o apoio da população e da mídia acontece justamente porque a violência não vem dos manifestantes e sim da repressão desproporcional pelos órgãos de segurança. Ficou claro nas últimas semanas que o papel e as práticas da polícia precisam ser discutidos, mas ela, insensível ainda à voz das ruas, nem tocou neste assunto.

Trata o povo de forma informal, chamando de amigas e amigos, mas chega a ser leviana quando diz que as tarifas baixaram, quando o país é muito maior que São Paulo e Rio de Janeiro e a maioria dos municípios ainda não reflete esta realidade. Também desconsidera as tarifas intermunicipais e de regiões metropolitanas que também precisam baixar. É preciso criar instrumentos eficazes de controle do cidadão para que a tarifa não seja moeda de troca de propina com prefeitos e vereadores. Embora isso aconteça em muitos municípios brasileiros é muito difícil de provar e enquanto alguém não encarar o problema de frente o cidadão continuará sofrendo com o “poder de convencimento” dos empresários de ônibus urbanos. Propõe apenas um “Plano nacional de mobilidade urbana que privilegie o transporte coletivo”, uma iniciativa que desanima o cidadão que ouve pois sabemos que será discutido por anos e ainda assim chegará a resultados que interessam muito mais aos donos do transporte coletivo do que aos usuários. 

Usa as mobilizações populares para pressionar o congresso a aprovar a utilização dos recursos dos Royalties petróleo, mas eu não vejo uma discussão mais aprofundada com a sociedade de como e onde estes recursos serão utilizados. É a velha prática de decidir sozinha e querer que as pessoas apoiem e façam o que ela quer. Por que não podemos ampliar a discussão envolvendo os educadores e a sociedade para propor algo que realmente atenda às necessidades populares? Precisamos de menos arrogância e mais humildade de nossos governantes. Diz que ampliou os gastos com saúde e educação e não percebeu que está fazendo isto de forma errada, pois o sentimento das pessoas é que nunca estivemos tão mal nestas áreas. 

Quando diz que as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional parece que está vivendo em outro país. Ganharam prioridade aonde? No governo dela? Nos governos de estados e municípios que estão todos escondidos sem saber o que fazer? No congresso? No judiciário? O combate à corrupção é provavelmente a maior reivindicação que surge das ruas. E neste ponto a Dilma foi muito vazia em seu pronunciamento. Disse que todos a conhecem neste assunto, que apoia o controle social e sancionou a Lei de Acesso a Informação. Alguém precisa avisá-la que estas ferramentas são muito pouco eficazes e só funcionam como deveriam se o próprio gestor público permitir, ou seja, quase nunca. 

Prometeu ouvir a sociedade através dos líderes das manifestações e disse que a “cidadania” será ouvida antes do poder econômico. Será que ouvirá mesmo que tem representatividade ou chamará lideres de CUT e UNE, organizações sob total controle petista e que nem conseguiram se mexer com velocidade suficiente para acompanhar as manifestações. Se a Dilma der continuidade à tradição petista de se relacionar com os movimentos vai escolher para serem ouvidos aqueles que estão sob a sua própria tutela. A Dilma precisa romper uma barreira e perceber que existem movimentos verdadeiros que não estão sob o julgo do PT e deixar de achar que apenas os petistas são legítimos representantes sindicais e sociais. Se ela tomar esta medida simples ao menos saberá quais os reais anseios do povo. 

Ficou na defensiva ao explicar que o dinheiro federal para a Copa foi usado apenas para empréstimos, ignorando os governos estaduais que estão gastando bilhões em estádios e obras não prioritárias e sem apontar uma solução ou uma redução destes gastos em estados e municípios. Também não cita um único instrumento que reduza a corrupção nas obras bilionárias da copa. 

No final apela para a paixão brasileira pelo futebol para pedir que os turistas estrangeiros sejam bem acolhidos nos eventos esportivos, em retribuição aos brasileiros que são bem recebidos no exterior. Mais uma vez ela perde o foco e se distancia do que o povo pede. Os protestos nunca se viraram contra os estrangeiros que estão no Brasil, embora a FIFA já esteja sendo hostilizada. Mas isto acontece pela arrogância de uma instituição que afronta os brasileiros com regras esdruxulas proibindo até a cultura nacional em sua própria terra. Dilma ignora completamente que a maior parte das pessoas que está nas ruas não foi e nunca irá ao exterior e usa argumentos absurdos para tentar acalmar as manifestações em época de Copa das Confederações. 

Dilma ainda não prestou atenção nos gritos, nas vozes, no desespero, no clamor e no anseio daqueles que marcham pelas cidades em busca de um país melhor. Foi pega de surpresa e ainda está atordoada. 

O Brasil acordou. Ainda precisamos acordar a Dilma.


Por: Odair Ombrosio
Vice-Presidente Estadual
PSOL/SE

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